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Revista VITA #12

Oliveira de Azeméis

“Eu quero é continuar a pintar e a sentir-me feliz aqui”

O que dizem as suas obras?
As minhas obras falam de mim. Dos meus, das pessoas com quem eu me cruzo, dos momentos em que o meu espírito está mais inquieto ou mais apaziguado. Também demonstram quando eu estou mais solitária ou mais acompanhada, falam das minhas rotinas.

Qual a sua fonte de inspiração?
A minha fonte de inspiração são as pessoas e os lugares. Eu tenho bastante dificuldade em recorrer a assuntos que eu não domino, que eu não conheço, a lugares onde eu nunca estive. Fazer retratos por encomenda, sem conhecer a pessoa, é sempre um drama para mim, não gosto nada disso. A pintura sai-me mais facilmente quando acontece pelo contacto físico e até espiritual entre as pessoas e os lugares.

É habitual ver retratos de família em muitas das obras. Queres falar sobre isso?
Enquanto estudante de Belas Artes, cheguei a um determinado momento da minha formação em que eu tive de escolher uma linha, um tema, para dar continuidade a um ano letivo exigente. E eu recordo-me que, nesse ano, não tive qualquer constrangimento em recorrer à minha avó que, aos 77 anos, foi das primeiras modelos, dos meus registos. Foi este o assunto da minha primeira exposição, do meu primeiro ciclo de trabalhos a sério. A minha avó serviu-me de pretexto, mas, ao mesmo tempo, ajudou-me a confirmar algo que eu já tinha e que não sabia, uma necessidade muito grande de me aproximar das coisas e das pessoas através daquilo que eu domino melhor, a pintura. Pintar a minha família e perceber que ela ocupa um lugar de destaque na minha pintura, foi e é apaziguador. Antes de eu ser mãe e de me casar, eu tinha muitos sonhos: queria ser uma grande pintora, queria sair de Portugal, queria estudar noutros sítios e, a minha relação com os amigos, com o António (marido) e a proximidade com a minha família fez-me perceber que era aqui que eu afinal queria estar. Neste momento, sinto-me extremamente realizada porque consegui conciliar o meu espaço familiar, o meu espaço de ateliê e ainda dar aulas. Assim mantenho o contacto com crianças, famílias, e outros universos. Perceber que o conteúdo da minha pintura são as pessoas, sejam elas mais ou menos próximas de mim, reforça-me a vontade de continuar a pintar.
 
E desde que idade é que pinta?
Eu comecei a pintar quando fui para o primeiro ano da universidade. Eu nunca tinha pintado em tela, tinha feito alguns desenhos em cartão, em papel, mas até posso dizer que era um bocadinho receosa. Não tinha muita confiança em mim e em assumir grandes formatos ou materiais que eu ainda desconhecia.

Quando eu vou para a universidade e começo a trabalhar com tintas a óleo sobre tela, percebo que ganhei confiança e comecei a ampliar a escala do trabalho e também a pintar de outra maneira. Mas isso não foi imediato. O processo foi lento, gradual e bastante rigoroso, de superação!

Agora, identifique, uma obra que seja a mais marcante, com a qual mais se identifica.
Há uma peça que eu gosto muito, que é um díptico que se chama “A Ponte”. Eu gosto muito dessa peça porque fala do encontro entre três personagens antes de se realizar um casamento. Eu de certa forma idealizei aquilo que poderia ter sido um ensaio para o meu casamento. A conversa com o pai, o acompanhamento da mãe nos preparativos, quer do vestido, quer do dote, quer do espaço, coisas que não aconteceram na realidade.
Os meus pais tiveram uma profissão muito exigente, com pouco tempo para acompanhar estas coisas. Acontece que em várias fases do meu crescimento me senti um pouco sozinha, desprendida deles. Momentos que ficaram muito ao meu encargo e talvez por isso os descreva com a intensidade das minhas pinceladas e paleta de cores. De facto, precisei de pintar e repintar essa cena.
Eu pintei a minha mãe a tratar do meu vestido de noiva, que na verdade nem era o meu, era o dela. Não sei se é em forma de protesto ou amparo. No entanto, eu olho para essa peça e talvez seja a obra onde eu me consigo aproximar mais do sentimento que vivi na altura.

E o local de exposição mais marcante?
O meu local de exposição mais marcante foi a Galeria São Mamede.
A minha primeira exposição foi em Lisboa, logo a seguir ao meu período de formação. Eu ainda não tinha muita consciência do espaço que ia ocupar nem das pessoas que me iriam visitar. Eu sei que trabalhei de uma forma intensiva, exímia e lembro-me de procurar os meus professores para lhes mostrar o meu trabalho no sentido de perceber se estavam à altura de uma exposição. Senti ansiedade e uma explosão de alegria muito grande.

A obra do Hospital de São Miguel, o que é que significou para si?
Uma oportunidade. Já há muito tempo que queria fazer uma peça de grande formato num espaço exterior, e a oportunidade que me foi dada pela Liga dos Amigos do hospital foi bastante importante. Acreditaram em mim! Ficaria representada na cidade onde vivo, e onde muitos me conhecem, mas poucos vêm o que faço. Nem sempre é possível dar a conhecer o que está em curso, o que foi feito. Entendo que as pessoas que ali passam, não estão à espera de encontrar uma pintura. É muito diferente de visitar uma exposição. Uma imagem e/ou uma narrativa pode simbolizar muito para cada visitante daquele hospital, a interpretação ou o puro deleite, acrescentam valor e ampliam o meu percurso, comunicam, oferecem-lhe memória.
Nunca tinha pintado numa parede e, estar a pintar em cima de andaimes gerou-me alguns constrangimentos que consegui ultrapassar e perceber que foi mais um passo dado na minha existência. Foram duas semanas a pintar e sempre com a companhia das pessoas que, por curiosidade, ou porque simplesmente ficavam à espera, queriam ter consciência de como o trabalho ia evoluindo. Foi muito especial. O projeto inicial que fiz exigiu muito de mim e posteriormente sofreu alterações. Na primeira visita que tive aos utentes e às suas dinâmicas, não consegui ver felicidade, nem conforto. A dor e a saudade são difíceis de descrever de uma forma bonita. Vi um espaço cheio de pessoas doentes a aguardar consulta, a aguardar pelos familiares que não chegavam… Assim, numa segunda visita, eu reencontro essas mesmas pessoas e outras e percebo que, mesmo tristes, elas tinham ali um espaço, uma mão amiga. E é por isso que depois o meu projeto é alterado e surge uma nova personagem que é uma centenária e que sinceramente foi ela que me deu a resistência para concretizar o trabalho que lá se encontra.
A sua fragilidade e resiliência elevam o esforço de todos os profissionais que ali representei, é uma homenagem de encontros e companheirismo. Gosto de abraços generosos e histórias com um final bonito!

Sente-se reconhecida pelo trabalho criativo artístico que desenvolve?
Eu tenho a sorte de, ainda no meu percurso de formação, ter conseguido encontrar pessoas que valorizavam muito o meu esforço. A pintura foi crescendo e entre nós celebramos o que eu chamo muito vezes de recreio. É um diálogo diário que procuro conservar, e como em todas as relações, vivo períodos mais ou menos felizes. Gosto pouco do isolamento, mas é necessário. O trabalho de atelier é solitário, fica à minha responsabilidade, depende de mim, das minhas decisões. No espaço académico vivia rodeada de professores e colegas, era e é muito enriquecedor. As dúvidas diluem-se e de certa forma reforçamos a coragem. Temos quem nos acompanhe, eu sempre quis e acreditei nisso. Logo no início, fui convidada a desenvolver uma peça para uma Bienal e outra para uma coletiva. É relevante perceber que contam comigo, que reconhecem o meu trabalho, que sou uma boa companhia. O convite dos galeristas, as palavras das pessoas que escrevem sobre a pintura, o sorriso e a admiração dos amigos, o reforço dos colegas de curso, o apoio incondicional da família, vão confirmando que, aquilo que tu estás a fazer, continua vivo e tem pernas para andar.
A minha experiência enquanto artista plástica é um modo de vida, desafio-me com frequência, aceito propostas, estou presente onde me sinto bem. Tenho participado em ilustrações de livros, já fiz outro mural, este sobre a responsabilidade de Helena Mendes Pereira, uma mulher forte e cheia de sonhos, apaixonada por arte, uma profissional que muito admiro.

Na profissão, como aplica a sua arte?
Estou sempre a trabalhar. Não desligo. Eu estou na escola a dar aulas e estou a olhar para os desenhos dos miúdos. Ainda no outro dia, estava aqui de volta das minhas coisas e apetecia-me ir a uma capa de um miúdo buscar um passarinho que ele desenhou e que eu adoro. Está aqui na minha cabeça. Também levo muitas vezes aquilo que faço para servir de exemplo aos meus alunos, não porque seja o melhor trabalho que eu conheço, mas porque é algo que lhes consigo dar para analisarem e terem a sua ideia crítica.

És professora de que disciplinas?
Dou aulas do sétimo ao 12.º ano. Leciono Artes Visuais, percorrendo disciplinas como: Educação Visual, Desenho, Oficina de Multimédia e Oficina de Artes.

Tem projetos por concretizar?
Projetos tenho. Quero continuar a pintar muito e quero ampliar as personagens que existem nos meus quadros. Quero continuar a acreditar que elas têm um palco nas minhas telas. No fundo, eu não quero concretizar nada que eu já não tenha feito. Eu quero é continuar a pintar e a sentir-me feliz aqui.
Espero e vou fazer por merecer o lugar dos meus trabalhos em várias das grandes coleções de colecionadores de arte, estar presente junto de artistas que muito admiro e em espaços onde o público possa ver o meu trabalho junto daqueles que me motivaram. Quero entusiasmar os outros.

Tem noção da quantidade de obras que já criou?
Não. Mas já pintei muito. Continuo insatisfeita.
Lembro-me de, no meu último ano letivo, enquanto estudante, ter pintado 42 peças. Naquela altura foi algo muito exigente. Estava esgotada, mas extremamente feliz. Talvez tenha sido o ano mais produtivo e estávamos todos a trabalhar para obter o melhor resultado possível. Havia uma dinâmica de grupo bastante boa. Depois tínhamos os professores a olhar por nós, dando-nos grandes perspetivas de que poderíamos ser promissores. E isso, trouxe uma responsabilidade acrescida ao meu último ano. Não era só a nota, mas era também a lealdade e toda aquela força que se gerou no grupo. E desse grupo, eu creio que são todos jovens artistas (já não somos assim tão jovens...) mas somos todos artistas, sim!
Uns numa área, outros noutra. Fico feliz por saber das suas conquistas.

E agora para finalizar, essa tela que está atrás de si, que é um belo cenário. Quanto tempo é que a demorou a criar?
Eu pintei esta tela logo a seguir ao final do ano letivo anterior. Já não pintava há bastante tempo porque tinha ficado com uma turma do 12.º ano de Desenho, turma que tive de preparar para exame. Foi um desafio muito bom, porque tinha um grupo de alunos a confiar em mim e na energia que eu lhes passava. Lembro-me que, logo a seguir à realização dos exames, eu entrei no ateliê e, em duas semanas, eu tinha esta peça pronta. A peça, o vídeo e uma sessão de fotografias. Voltei!!!!!


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