Na sua Oficina de Histórias, localizada na freguesia de Travanca, Oliveira de Azeméis, Carlos Mendonça faz do velho novo, melhor dizendo, restaura antiguidades e devolve vida a objetos inutilizados ou prestes a ir para o lixo.
Aos 27 anos de idade e com apenas meia dúzia de anos de experiência no restauro de antiguidades, Carlos Mendonça é procurado hoje, por pessoas não só do concelho, de onde é natural, mas também de vários pontos do país.
Desde que começou no ofício, o jovem de Travanca já efetuou dezenas de restauros e, é na Oficina de Histórias, que Carlos Mendonça tem muitas histórias para contar, da sua vida e daquilo que é a sua paixão. É ali que tudo acontece, restaura mas, também, compra ou vende antiguidades.
O vício de mexer e lidar com objetos antigos vem desde criança, incutido pelo seu pai.
“Eu ia com o meu pai a feiras, desmontava peças com ele e isto acabou por surgir de forma natural”, revela, o jovem Carlos Mendonça. Até que a certa altura decidiu criar a Oficina de Histórias e começar a restaurar, tinha entre 21 e 22 anos.
Antes da pandemia, a Oficina, além de um local de trabalho, funcionava como um espaço de conversa e troca de ideias de quem ali levava ou ia buscar algum objeto. É como se fosse um espaço familiar: “vem um amigo, vem um vizinho, acabamos por ficar aqui a conviver, a falar de histórias associadas aos objetos, a partilhar ideias”.
A sua paixão é restaurar peças antigas, fazer com que um objeto antigo seja reutilizado e volte a ser usado no quotidiano. Inicialmente começou por restaurar bicicletas, as chamadas “pasteleiras” mas passou, depois, também a recuperar máquinas de escrever, máquinas registadoras, máquinas de café e máquinas de costura. “Tudo o que era usado antigamente, e me pedem para restaurar, eu restauro, não digo não a nada”, refere. Cada objeto tem a sua história e dá prazer em restaurar. “É sempre um desafio e quando se trata de uma peça nova, há um certo medo mas também uma descoberta associada ao objeto”, salienta.
A presença de Carlos Mendonça no Mercado à Moda Antiga de Oliveira de Azeméis, ajudou-o a divulgar o seu trabalho. Hoje tem, entre outras zonas do país, clientes de Aveiro, Porto, Torres Vedras ou Porto de Mós, vendendo peças para todo o país, incluindo a Região Autónoma dos Açores.
Carlos Mendonça também compra peças antigas, recupera-as e vende-as. A arte de restaurar aprendeu-a naturalmente, num ambiente propício onde o pai lhe transmitiu o “bichinho” das antiguidades. Com o tempo foi aperfeiçoando a sua arte, quer por via da internet, quer junto de pessoas mais idosas, conhecedoras e experientes. “Temos uma dúvida e vamos falar com aquele homem que tem já alguma idade e restaurou bicicletas, ou então vamos ter com aquela pessoa que, desde sempre, restaurou rádios”.
A peça mais antiga que Carlos Mendonça restaurou foi uma grafonola de bolso, do início do século XX, já com mais de 100 anos. “Tudo o que tem aparecido eu tenho conseguido recuperar”, diz com orgulho.
O seu local de trabalho traz-lhe algumas memórias gratificantes.
Carlos Mendonça recorda a história de uma bicicleta desaparecida que fez parte da sua infância e da infância da sua irmã, e que, acabaria por voltar às suas mãos passados 15 anos.
“A bicicleta, que está a ser restaurada neste momento, estava a dois passos de minha casa”, diz, recordando que um vizinho seu esteve para a deitar ao lixo.
Histórias de peças com histórias…