A vida difícil de Sérgio Rocha, um dos maiores produtores da freguesia
Inúmeros e extensos campos fazem da agricultura a principal atividade da freguesia de São Martinho da Gândara, uma terra profundamente marcada pela ruralidade.
Desde sempre, a produção leiteira afirmou-se nesta freguesia como uma atividade dominante. Um dos maiores produtores atuais de leite é Sérgio Rocha que há cerca de 28 anos, depois de casar, começou a trabalhar na exploração agrícola do sogro.
Não é uma vida fácil como nos relata o nosso interlocutor sobre o seu dia-a-dia. “Levanto-me entre as 6h30 e as 7h00, depois é tempo de tratar dos animais, fazer a limpeza, cuidar da alimentação e, no final destas tarefas, sair para os campos”.
E qual é a hora de terminar o dia? “Não há hora certa de acabar o dia de trabalho, pode ser às 21h00, às 22h00 ou mesmo às 23h00”. Quem o ajuda nesta atividade é a sua esposa e o sogro. “Isto é uma vida difícil, muito complicada, é estar 365 dias por ano, 24 horas por dia disponível para isto. Ainda esta noite às 01h30 da manhã tive de fazer um parto”.
O produtor realça que “isto é um setor que exige muitas pessoas” existindo dificuldade em se conseguir mão-de-obra disponível e qualificada, além das pessoas procurarem “mais qualidade de vida” fugindo para outras atividades.
A exploração, onde muito já foi investido, nomeadamente um sistema robotizado de ordenha no valor de 125 mil euros, existe há cerca de 50 anos e produz aproximadamente 600 mil litros anuais de leite provenientes das cerca de 140 cabeças de gado que faz parte do efetivo leiteiro.
O escoamento do leite é feito pela Proleite. “É uma cooperativa que nos ajuda muito com os seus técnicos e equipa de veterinários”, diz Sérgio Rocha.
O produtor de São Martinho da Gândara garante a qualidade do leite que produz até porque se não o garantir será penalizado. “O leite é muito controlado, é levantado aqui, tem de estar à temperatura e quando chega à Lactogal é feita uma despistagem para se apurar se há antibióticos ou outro tipo de anomalias que não garanta a qualidade do produto”, relata.
A alimentação dos bovinos tem de ser muito cuidada porque depois vai refletir-se na qualidade do leite. “Aqui trabalhamos com forragem de inverno, à base de ervas, e trabalhamos com a silagem de milho durante o verão. Esta é a base e depois suplementamos com outros produtos à base de cereais que vão compensar as faltas”. Nesta matéria, Sérgio Rocha conta com a colaboração de um técnico nutricionista. O conforto animal e a higiene refletem-se também na qualidade do leite.
Quanto aos apoios oficiais à atividade “recebemos anualmente um subsídio” que se constitui “numa das grandes ajudas para conseguirmos sobreviver”.
O preço do leite pago ao produtor, de 32 cêntimos por litro, não se coaduna, por exemplo, com o investimento que é feito e com a vida intensa e difícil de um produtor do leite.
E qual vai ser o futuro? Sérgio Rocha responde prontamente: “O número de explorações vai baixar drasticamente porque parte das pessoas que estão nesta atividade são pessoas já com uma certa idade e há poucas explorações com pessoas novas a trabalhar”. Além disso, há escassez de mão-de-obra e não é rentável admitir empregados.
O agricultor vaticina: “não vão ficar muitos, num prazo de 10 anos vamos ter meia dúzia de produtores de leite na freguesia”.