Terra tradicionalmente agrícola, virada para a produção leiteira, São Martinho da Gândara tem vindo a traçar novos rumos na agricultura de que é exemplo a criação, em 2013, da Biogândara, uma empresa dedicada à produção de mirtilos.
Inicialmente identificada com o concelho de Sever do Vouga, a produção do mirtilo não está confinada atualmente apenas àquele concelho, sendo já comum a sua produção noutros municípios do distrito de Aveiro, incluindo no concelho de Oliveira de Azeméis.
Há sete anos, José Ribeiro, um ex-consultor informático viu no Projeto “Jovem Agricultor” uma oportunidade para criar a empresa “Biogândara” e dar utilidade a cerca de 2,5 hectares de terreno que, mais tarde ou mais cedo, iriam ficar ao abandono.
“Começámos em 2013 com um hectare com cerca de três mil plantas”, recorda José Ribeiro.
Passados sete anos, a empresa que criou é uma das maiores produtoras de mirtilos do concelho. “Hoje conseguimos abastecer cada vez mais o mercado local porque as pessoas já conhecem o mirtilo e procuram-no fresco mas a maior parte da produção vai para exportação”.
Até 2019 a Biogândara exportava mais de 90% da sua produção, o equivalente a cerca de sete toneladas. Em 2020 a empresa aumentou as vendas locais tendo contribuído para isso a procura e a qualidade do produto. “As pessoas sabem que estão a comprar e a levar mirtilo que foi colhido no próprio dia”, diz José Ribeiro.
Em São Martinho da Gândara está-se a reinventar a agricultura e, este projeto, faz parte de uma nova vaga de agricultores, mais novos, mais capacitados e munidos de outras ferramentas.
“Isto é um tipo de produção diferente, um mercado diferente”, acentua o produtor sublinhando que os produtores de mirtilo no distrito de Aveiro são responsáveis pela exportação de mais de 200 toneladas. José Ribeiro espera que este seja “um setor de futuro na freguesia” sendo ambição da Biogândara “expandir a área de produção”.
José Ribeiro não tem dúvida de que a agricultura continuará a ser a atividade principal da freguesia. O produtor de mirtilos lembra que “o que marcava São Martinho da Gândara era a produção de leite” mas o que se assistiu nos últimos anos foi a uma “razia dos pequenos produtores que levou à extinção de uma série de produções familiares” tendo sobrevivido apenas os grandes produtores.
Apesar de ser um empregador sazonal, a Biogândara ganhou já notoriedade estando bem implantada na freguesia. “Já começámos a colocar mirtilos em alguns supermercados em Oliveira de Azeméis e fornecemos já a pequenos vendedores do mercado municipal, por exemplo. Estamos a falar de uma agricultura que está sujeita às condições atmosféricas e, já sofremos isso na pele em alguns anos”, refere.
Os últimos mirtilos a sair da freguesia foram para Hong Kong. José Ribeiro explica que a exportação implica uma certificação do Global G.A.P., um sistema integrado de garantia da produção abrangendo toda a produção do produto, desde as explorações agrícolas até à comercialização. “Em termos de certificação fomos mais longe e, neste momento, temos a certificação em proteção integrada”, realça José Ribeiro.
A Biogândara é um produtor PROVE Vouga Norte fazendo uma entrega média semanal entre 25 e 30 cabazes ao domicílio em Oliveira de Azeméis, São João da Madeira e Vale de Cambra.