António Brandão dedicou toda a sua vida a fabricar canastras, de vários tipos e tamanhos.
Tinha apenas 10 anos quando começou a aprender a arte de canastreiro com o seu pai. Hoje é o único na freguesia de São Martinho da Gândara a fabricar canastras, o último resistente de uma arte cujo futuro é a extinção.
“Sou o único canastreiro da freguesia, não há ninguém que faça isto, só eu”, diz António Brandão.
“Quando eu deixar isto, esta arte acaba”. Chegou a ter uma pessoa consigo a aprender a arte mas “estava sentada sempre a dormir e…desistiu”. Recorda ainda que o seu irmão João chegou a trabalhar como canastreiro mas “depois um colega dele veio aqui para uma fábrica e convenceu-o a ir trabalhar com ele e não seguiu, por isso, a profissão”.
A sua infância foi difícil. A sua esposa diz que ela “foi ajudar a criar 10 irmãos”, dos quais o mais velho é António Brandão.
Enquanto fabrica calmamente uma canastra, António Brandão vai contando episódios da sua vida entre os sons dos utensílios que usa e o silêncio de uma manhã fria.
As suas dificuldades auditivas (a culpa foi do barulho de uma máquina onde trabalhou em França) não o impedem de satisfazer a nossa curiosidade sobre a profissão que herdou da sua família, mais precisamente do seu bisavô, avô e pai.
O tempo de fazer uma canastra difere de uma para outra. “É consoante a canastra mas leva tempo”, apressa-se a dizer. Faz canastras até à medida 15.
“Já fiz muitas canastras grandes, hoje já não”, refere o artesão que, apesar dos seus 88 anos, revela ainda muita agilidade e arte no que faz.
De sua casa já fez canastras para peixeiras de Lisboa e do Porto mas atualmente produz também para clientes, por exemplo, de Vila Nova de Poiares, Fátima ou Aveiro. “São os clientes que vêm buscar os artigos aqui a casa”, refere a esposa, realçando não terem falta de trabalho.
A última encomenda que tem em mãos é para uma pastelaria em Aveiro. “Algumas destas canastras servem para servir o pão na mesa, outras são usadas para a fruta”.
“Antigamente era tudo canastreiros e não havia tanto plástico. Para nós, para a nossa arte, o plástico não veio fazer diferença nenhuma”, diz a esposa do artesão para quem “a malta nova de hoje desconhece o valor das canastras de antigamente”.
António Brandão nasceu a 08 de junho de 1932, poucos anos antes da Primeira Guerra Mundial, período onde a fartura não abundava e a vida era árdua e de muito trabalho. Recorda que “naquele tempo começava-se a trabalhar cedo e terminava-se às 23h00 da noite”.
Eram tempos difíceis. A vida levou-o a fazer uma incursão por França, onde trabalhou sete anos. Depois de regressar a Portugal nunca deixou de exercer a única arte que gosta. “Deixar de fazer isto é morrer”, diz a esposa.
Levanta-se, na maioria dos dias, às 08h30 para fazer canastras. Diz que continua a trabalhar porque gosta simplesmente e porque há fregueses que lhe pedem e o desafiam. “Estar parado não dá. Eu não precisava de trabalhar porque tenho a reforma portuguesa e as reformas de França que dão para comer e ainda sobra”.
António Brandão participou, como artesão, em edições do Mercado à Moda Antiga e nas feiras de artesanato realizadas em Oliveira de Azeméis.