Manuel Matos Barbosa nasceu em Oliveira de Azeméis, em 1935, e desde muito cedo se fascinou pelo mundo do cinema, quando ainda criança acompanhava uma vizinha às sessões nas salas de cinema locais. A partir daí, começa a interessar-se pela leitura de livros e de revistas e a procurar saber como se faz cinema.
Com 19 anos juntou‑se ao cineclube local e em 1958, comprou a primeira câmara de filmar de 8mm, “o que era um caso raro cá em Oliveira, porque só as famílias mais abastadas tinham poder económico para ter uma câmara de filmar”, recorda Matos Barbosa. Começou a rodar pequenos filmes que retratavam eventos locais ou convívios familiares e o primeiro filme que fez foi sobre as festas de La Salette.
Fez parte do «grupo de Aveiro», nos anos 60, juntamente com Vasco Branco e Manuel Paula Dias, um grupo de cineastas amadores que foi responsável por uma quantidade muito significativa de filmes nessa década e foi sócio do Clube dos Galitos de Aveiro, que esteve na organização do 1.º Congresso do Cinema Amador Português, realizado em 1970.
Correu o mundo a passar cinema e fez parte da comissão organizadora do Cinanima, a partir de 1977, o festival de cinema de animação de Espinho, “um incentivo incrível que me levou a conhecer imensa gente e que contribuiu para este bichinho que ainda continua vivo cá dentro”, refere Matos Barbosa.
Também manteve uma relação muito próxima com o Cine-Clube de Avanca, não só como membro do júri em muitos festivais de cinema mas, igualmente, porque escolheu como seu produtor o cimógrafo e professor, António Costa Valente.
Para além do cinema de animação, realizou alguns documentários sobre as «gentes, as suas histórias e habitats», sobre o vidro, os moinhos de Ul, as festas da La Salette, a pesca no Furadouro, mas foi o cinema de animação que lhe trouxe um maior reconhecimento, comprovado pelas homenagens e prémios ao seu trabalho, que o levam a ser referenciado como uma importante personalidade no âmbito do cinema amador em Portugal.
Passou pela repressão da PIDE, guardando em sua casa, ainda hoje, alguns boletins de censura de trabalhos seus. Recorda que, em 1973, acompanhou o amigo Vasco Pinto Leite a Angola, onde, essencialmente, pretendiam gravar e passar cinema, tendo cometido o erro de contar ao departamento que controlava os espetáculos, que pretendiam passar o filme “o Anúncio” de José Cardoso, com música do Zeca Afonso. Foram automaticamente proibidos de passar esse filme, apesar do mesmo ter excelente qualidade, muita originalidade e ter sido premiado por várias vezes.
O primeiro filme que realizou como cineasta profissional chama-se “A Ria, a Água e o Homem”, um filme que surge no decorrer do convite lançado por António Costa Valente na sequência de uma exposição de desenhos sobre a ria, que decorreu no Museu Regional de Oliveira de Azeméis.
Recorda Oliveira de Azeméis como uma terra de cinema, onde chegaram a estar três salas a funcionar em simultâneo, que esgotavam permanentemente e onde, para além dos filmes do circuito comercial, se passavam filmes mais eruditos, para um público diferente, que pedia cinema de qualidade. “Quando os rapazotes da terra me viam a entrar no cinema, comentava-se logo que o filme não era de interesse…”, comenta Matos Barbosa com uma risada.
Olha para a iniciativa Azeméis Film Festival com muita expetativa, considerando que “se deve aproveitar o circuito de outros festivais, potenciar os meios, as pessoas que se conhecem, para que Oliveira possa recuperar a sua tradição cinematográfica. Seria para mim um orgulho, voltar a ver as filas nas bilheteiras, as salas repletas de pessoas interessadas em cinema, participar em palestras, receber personalidades portuguesas e estrangeiras ligadas ao mundo do cinema, tanto da Europa, como da Ásia”, conclui.
Com uma filmografia de 18 filmes e já com 86 anos, está a terminar um filme de animação com apoios do Instituto do Cinema e do Audiovisual, baseado num conto do escritor Fialho de Almeida, que estará pronto muito em breve. Para além deste, ainda gostaria de realizar um terceiro filme no cinema profissional, que “já está desenhado, planificado e subsidiado, espero ter coragem, tempo e paciência para o fazer, para assim terminar o meu contributo para o cinema”, declara com determinação.