Alfredo Morgado tem 63 anos e trabalha há 49 anos no vidro. Natural de Castelo de Paiva, uma região de muita pobreza há 60 anos atrás, veio com a família para Cidacos à procura de trabalho, e os três irmãos mais velhos foram trabalhar para o Centro Vidreiro do Norte de Portugal.
Logo em criança, tomou contacto com a arte do vidro, resultado das deslocações que fazia à fábrica para levar o almoço aos irmãos. Recorda que “naquele tempo o Centro Vidreiro era uma empresa gigante e todo aquele mundo me fascinava, as cores, as habilidades, as peças. E pensava, eu gostava muito de fazer isto… quando sair da escola é isto que eu quero fazer… tinha 8 anos. E assim foi!”
Assim que acabou o 6º ano, com ainda 13 anos, foi trabalhar para o Centro Vidreiro do Norte de Portugal e teve a sorte de ir para uma obragem manual, num trabalho “mão-livre”, que era aquele que mais o inspirava. Conheceu muitos oficiais do vidro, aprendeu com grandes artistas, e a sua curiosidade e paixão fazia com que tentasse aprender todas as técnicas, todos os segredos do fabrico, para tentar reproduzir cada peça com a mesma perfeição.
O encerramento do Centro Vidreiro constituiu para si um enorme sofrimento, mas não perdeu a esperança de poder continuar a trabalhar o vidro. “Estava disposto a correr atrás desta minha paixão para onde fosse, porque a minha pátria é universal, vivo em qualquer lado, desde que possa ter comigo os três pilares que regem a minha vida: Deus, a família e o trabalho” – declara o mestre Morgado com a convicção de que só vive enquanto puder trabalhar o vidro.
Depois de uma curta passagem por Estarreja e por Santa Maria da Feira, em abril de 2007, surgiu o convite para trabalhar no Berço Vidreiro, ajudando a reavivar parte da história do vidro em Oliveira de Azeméis. “Foi a minha maior alegria, nada surge por acaso e, se eu não fosse apaixonado por isto, não estava aqui hoje”.
Na oficina do Berço Vidreiro fabrica com criatividade e engenho, com mãos hábeis de mestre, um vasto conjunto de peças decorativas, que vende aos visitantes do Parque de La Salette, como jarras, fruteiras, flores, cisnes, cavalinhos, porta-guardanapos, troféus e “tantas outras coisas que não têm nome, fica à imaginação dos clientes”, refere o mestre Morgado.
Olha para a futura abertura do Centro Interpretativo do Vidro com muita esperança e expectativa, para que a arte do vidro não acabe e para que novas gerações possam aprender a trabalhar o vidro como antigamente. Considera que esta arte artesanal tem grande potencial, se estrategicamente se incrementar o seu valor, em lugares atrativos, de grande turismo, apostando no fabrico e venda «in loco», mas também nas potencialidades do comércio online, como forma de se chegar mais longe, a todo o mundo.
Deixa, assim, o desafio para se apostar na formação de jovens que vejam na arte do vidro não uma forma de enriquecer, mas um meio de expressão criativo de pensamentos e emoções, um espaço para expressarem os seus sonhos, projetos e histórias pessoais.