A dona Dioguina Pinho nasceu a 24 de agosto 1935, no entanto, só encontrou a sua paixão pela arte dos poemas pouco antes dos seus 50 anos. Nascida e criada em Madail, viveu sempre nesta freguesia. Andou na escola até à “terceira classe” e depois, “trabalhei na costura e depois nos campos, o resto do tempo que me sobrava”, disse.
Começou a escrever porque participou num concurso de poemas para a rádio Renascença. Enquanto costurava, ouviu o anúncio referente a essa competição e pensou: “será que eu não faço dois versos para lá?”. Dioguina fez os tais dois versos e acabou por ganhar o 1º lugar. Depois disso, ganhou o gosto pela arte e começou a escrever frequentemente. “Comecei a ganhar um bocado de gosto pelos versos e pelos poemas e comecei a fazer”, refere a poetisa. Foi no coro, em que esteve 12 anos, que se deu o auge da sua poesia. Era solicitada para fazer todo o tipo de poemas para a população, desde versos de aniversários, funerais, para a sua família e depois foi arranjando mais temas. Nessa altura as suas ideias apareciam fluentemente, chegando a fazer 4 poemas numa única semana. Escrevia em casa e manualmente, fazia primeiro um rascunho, que depois corrigia e criava o trabalho final. Através desta função que desempenhou, como poetisa do povo, ganhou o carinho e respeito dos fregueses de Madail, “todos me respeitam e tratam bem”, diz Dioguina.
Tem bastantes poemas, apesar de já não escrever há algum tempo, visto que a sua memória já não o permite e as ideias não fluem da mesma maneira. Os poemas são uma constante na vida de Dioguina, estão presentes sempre e em qualquer circunstância. Numa fase menos boa, a poetisa, refugiou-se numa espontânea onda de criatividade “ sonhei que estava a fazer poemas e começaram a sair ideias de repente”.
Poema de Dioguina Pinho, feito em janeiro de 2010 sobre Madail:
“A Minha Identidade - Quem sou?
Sou pequena, sou airosa
Tenho um bonito perfil
Vem de longe a minha história
E o meu nome a Madail
Nasci entre pinheirais
Vistosa de lés a lés
Virada para o nascente
E o rio Ul a meus pés
Eu tenho a ponte de Ruivo
Que todos vós conheceis
Que me liga ao meu concelho,
Oliveira de Azeméis
E a ponte medieval
Que muito me identifica
Dá acesso a Fonte Joana
Junto aos Moinhos do Manica
Mais abaixo no Jenete
Tem uma ponte amorosa
Sempre existiu, de madeira,
Que me liga a Ouriçosa
Tenho um fiozinho de água
Entre ribeiros se esconde
Que sai da fontes das cales
Onde nasce o Rio Gonde
Meu passado faz história
Em tempo de medieval
Apesar de pequenina,
Já cá tive um hospital
Os meus campos cultivados
Eram fonte de riqueza
Era um jardim plantado
Em antiga portuguesa
Cabos, ancinhos, cadeiras
Trabalhos do artesão
Sempre deu voz ao meu povo
Hoje em vias de extinção
Tive um grande benemérito
Que deu ser à freguesia
Ofereceu a escola mista
Hoje sede da autarquia
A linda igreja que tenho
Vista de longe em redor
Foi feita pelo meu povo
E o seu grande fundador
E a capela mortuária
Obra de um bem feitor
Para servir o meu povo
Oferecida com amor
A escola dos pequeninos
A quem amo de verdade
E um campinho de jogos
Para os que têm mais idade
Aqui se criaram padres
E também grandes senhores
Hoje tenho enfermeiros,
Engenheiros e doutores
O tempo me fez mudar
Sou mais forte e mais crescida
Tenho fábricas e comércios
Minha gente me dá vida
Tenho séculos de existência
E tenho orgulho e vaidade
Do que foi e do que sou
Esta é a minha identidade.”
Dioguina Pinho