A “Ti Júlia”, como todos a conheciam, faleceu após dias desta entrevista. Numa simples conversa, conseguimos logo perceber a boa pessoa que era, genuína, humilde e carinhosa. A Câmara Municipal, com a devida autorização dos seus familiares, publica a sua entrevista como homenagem.
Na freguesia de Macieira de Sarnes vivia Júlia Emília Costa, tecedeira. Foi tecedeira durante muitos anos e, é dessa maneira que todos a recordam, a “Ti júlia” de lenço na cabeça, avental feito por ela, manguitos e sempre muito curvada e muito amiga das crianças.
Apesar dos seus 88 anos, e da sua memória já não ser o que era, todas as memórias antigas prevalecem intactas dentro da cabeça da Dona Júlia. Na época, as raparigas novas saíam de casa para ir servir em casas ricas, mas a Dona Júlia preferiu ficar junto da sua mãe e aprender a tecer “A minha mãe ralhava-me para eu aprender a tecer bem”, disse. Fazia tapetes, passadeiras e colchas de algodão que vendia, mas também oferecia a muitas pessoas “Eu dava, porque me vinham trazer muitos farrapos para fazer tiras”, referiu.
Tinha clientes sobretudo de Macieira de Sarnes e São João da Madeira, todos frequentavam a sua casa, para a ver tecer e conversar. Era uma casa de portas abertas, principalmente para as crianças. Nunca casou e não teve filhos, mas sempre fez questão de estar rodeada de crianças “Eu chamava as crianças e punha-as num banco corrido. Dava-lhes sempre sopa e broa que eu fazia”.
Eram estas crianças que também a ajudavam a por o algodão no tear. Todos se lembram de ver a tecedeira marcar o algodão na urdideira com uma couve. Deixou de tecer em 2005, o que lhe restou foram as memórias e a postura curvada que o tear lhe ofereceu. Simples e genuína, foi assim que a encontrámos na sua casa, decorada com os seus tapetes e passadeiras, de várias cores.
Até sempre Dona Júlia!