A arte e a paixão de produzir sacas de tiras
Não haverá ninguém no concelho de Oliveira de Azeméis que não conheça ou tenha ouvido falar das tradicionais sacas de tiras de Cucujães, uma atividade artesanal feita à base de pedaços de feltro provenientes da indústria da chapelaria.
Uma das figuras mais representativas desta arte, Armandina de Fátima foi, ao longo da sua vida de artesã, a imagem do município associada às sacas de tiras, ajudando a divulgar o artesanato de Oliveira de Azeméis. Por paixão e em memória da sua mãe, Reinaldino Freitas e sua irmã, Susana Freitas, decidiram dar continuidade a esta tradição familiar que dura já há três gerações.
A proximidade de Cucujães a São João da Madeira, cidade com muito peso, na altura, na indústria da chapelaria, favoreceu o aparecimento e o incremento deste tipo de artesanato uma vez que a matéria-prima usada são pedaços de feltros aparados dos chapéus aquando da sua confeção.
Reinaldino Freitas conta que aprendeu a arte com a mãe. “Quando era criança, eu e os meus irmãos ficávamos a ver a nossa mãe e a nossa avó a executarem as sacas de tiras”, diz, reforçando que “foi aprendendo esta arte ao longo do tempo”.
As peças artesanais são procuradas por pessoas que gostam de artesanato e também por turistas e, a quantidade produzida anualmente depende da procura, da existência de matéria-prima e da disponibilidade em as executar.
O artesão diz estar empenhado em manter vivo este ofício. “Na altura em que a minha mãe trabalhava na arte e pelo facto de não ter profissão, ela tinha tempo para se dedicar às sacas que tanto a apaixonaram. Por razões profissionais eu não tenho a mesma disponibilidade mas tendo oportunidade vou continuar a produzir as sacas de tiras”, garante, considerando, porém, tratar-se de uma arte “que não é sustentável para se conseguir viver dela”. Por outro lado, “é um trabalho que exige esforço” assim como a “remuneração não é atrativa”.
Sobre o futuro admite que “algumas pessoas mostram interesse na arte mas há algumas dificuldades na aquisição de matéria-prima por existirem em poucas indústrias de chapéus”. Há, também, o risco de, apesar de poder existir interesse “as pessoas perderem o entusiasmo depois de se inteirarem da profissão”.
O tempo médio de produção de uma saca é de dois dias mas o mesmo depende do tamanho. Há objetos para todos os gostos desde o “tamanho pequenino, ao pequeno, médio e grande”.
A confeção de uma peça exige alguns passos. O primeiro passo tem a ver com a seleção das tiras, com o aparamento e a seleção das cores, seguindo-se a colocação das tiras no molde da saca. O terceiro passo consiste em entrelaçar as tiras umas nas outras.
O quarto e último passo envolve os acabamentos do saco, ou seja, tirar a saca do molde, cozer as tiras, colocar as asas, constituídas por ripas de madeira com arame, e cozer tranças no saco para fazer remates. As ferramentas utilizadas são tesoura, martelo, serrote, pica pontas, agulhas, pregos, furador, linhas, dedal, arame e ripas de madeira.