Empresa centenária de latoaria “Reis & Reis” na origem da indústria de Cesar
Carlos Reis e José Fernando Reis
Uma das últimas empresas do país ligadas à latoaria tradicional portuguesa está localizada na freguesia de Cesar, concelho de Oliveira de Azeméis.
É dali, da empresa Reis & Reis, já com mais de um século de existência, e que sai uma gama variada de produtos de latoaria, nomeadamente artigos para cozinha, apicultura e agricultura.
“Somos dos últimos fabricantes desta arte no país”, diz um dos sócios-gerentes da empresa, José Fernando Reis acrescentando que “a maior parte dos produtos que fabricamos, talvez 60%, mais ninguém os produz no país”.
A empresa produz peças utilitárias que são usadas no dia-a-dia, assim como, outros artigos que são adquiridos como peças para decoração, mas todos eles funcionais.
Alguns dos artigos produzidos fazem parte do imaginário coletivo. São peças usadas regularmente por gerações anteriores como, por exemplo, gasómetros, cântaros, regadores, candeias (petróleo e azeite), escorredores ou botijas para água quente.
Mas são produzidos outros artigos: almotolias para azeite, galheteiros, funis, alguidares, pulverizadores em cobre, enxofradeiras, baldes em aço inox, mata-frangos, coadores para mel e fumigadores para a apicultura.
A empresa exporta cerca de 30% da produção para países como Espanha, França, Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos da América. A maior produção tem como destino o mercado nacional.
Os produtos com mais procura são as almotolias e artigos destinados à apicultura “mas todos os produtos têm, felizmente, saída”, refere José Fernando Reis. O sócio gerente recorda que a produção inicial estava concentrada mais em baldes e nos gasómetros, que era a iluminação utilizada na altura.
“Demos seguimento a essa arte introduzindo mais artigos, alterando algumas matérias-primas e introduzindo a mecanização no processo produtivo. Antigamente era usada a folha-de-flandres e chapa galvanizada, depois introduzimos o aço inox e o cobre”, refere.
A indústria do plástico foi a porta aberta para o fim de muitas empresas do ramo da latoaria mas a Reis & Reis sobreviveu a essa concorrência. “Temos nichos de mercado específicos em que o plástico não entra”, salienta.
Foram muitos os obstáculos no percurso da empresa mas sempre ultrapassados. Esta unidade passou por alguns regimes tendo iniciado a sua produção na Monarquia, atravessou o Estado Novo e duas guerras mundiais. “Nesta atividade tem de haver gosto e dedicação naquilo que fazemos. Quando um artigo não dá tem de se inovar com outro artigo”, refere José Fernando Reis.
Esta parece ser a receita para a continuidade daquela que foi a primeira unidade industrial a surgir em Cesar. “Somos uma firma histórica, estivemos nos primórdios do aparecimento de outras empresas na freguesia”.
Em 2017 a empresa foi distinguida com o Prémio Carreira, instituído pela Villa Cesari - Associação de Cultura e Desporto de Cesar.
As origens da empresa remontam a um industrial italiano chamado Piccorelli de Mello que iniciou a indústria de caldeireiro em Carregosa. O seu filho Manuel de Melo aprendeu a arte do seu pai e fundou, mais tarde, a sua empresa em Cesar.
A indústria de caldeiraria e latoaria, que este industrial fundou, incutiu nos cesarenses a arte das panelas e utensílios domésticos, estando nas raízes da conhecida indústria de louças de Cesar uma vez que, parte das atuais fábricas deste setor foi fundada por antigos operários dos Mellos.
Após a morte de Manuel Mello, a empresa foi vendida em 1926 à firma Melo Gomes, Oliveira & Reis Lda e, com o falecimento posterior destes três sócios, é o filho Fernando Reis e o seu irmão Carlos Reis, netos do sócio Francisco Reis, que dão continuidade à laboração da fábrica que, depois de algumas transformações, ainda se mantém em atividade desde 1990 sob a designação social Reis & Reis Lda.