S. Martinho da Gândara é uma freguesia onde a ruralidade persiste como o provam os núcleos rurais do Alto da Quintã, de Casal Dias e da Espinheira.
A escassez de documentos não permite saber quais as suas origens. Contudo, o documento mais antigo, datado de 964, apresenta S. Martinho da Gândara já constituída civil e religiosamente, com igreja própria e autónoma. Pertenceu à Comarca de Esgueira, passando, em seguida, para a da Feira e, finalmente, para o Município de Oliveira de Azeméis.
Povoado pré-histórico romanizado, S. Martinho da Gândara sobressai pelo seu Castro Recarei, já existente no século XI. Ainda que outros castros se apresentem nas imediações, como o de Ul e Vila Cova, em Madaíl, nenhum teve a importância do de S. Martinho, quer pela sua história, posição geográfica, quer pelos vestígios dos povos que, no decorrer dos tempos, por aqui passaram. Nele viveram celtas e pré-celtas e nele permaneceram por muito tempo, romanos e os visigodos com seu chefe Recaredo.
O padre Arede descreve este castro da seguinte forma: “...monte alto e arredondado e de difícil acesso. É sito no lugar chamado do Monte Castro, da dita freguesia de S. Martinho da Gandra. Tem vestígios de muros. Como se nota pela sua figuração e situação topográfica, mostra o mesmo ter sido uma aglutinação castrense, e ainda habitado em seus terrenos circunjacentes por algumas raças primitivas, e outras em sucessivos períodos históricos, como o certificam muitos objectos encontrados no referido sítio.”
O próprio topónimo define a morfologia do terreno arável, no qual assenta a freguesia. De facto, terá sido a existência aqui de várias gandras e de outras à volta, que levou o povo a denominar a freguesia de "Gandra".
Mas, segundo parece, a freguesia de S. Martinho nem sempre se chamou “Gandra”. Na obra “Portugaliae Monumenta Historica”, vem uma escritura de 1002, na qual um certo Ariano doa ao Mosteiro de Lorvão várias propriedades em S. Vicente de Pereira e S. Martinho da Maçada (Martini de Mazada) com suas casas, passais e igrejas. Isto demonstra que, nesta altura, a freguesia se chamava “ de Maçada”, nome de lugar ainda hoje existente e, outrora, de grande importância. A partir desta data, todos os documentos escritos são unânimes na denominação de “Gandra”.
De referir que, em Porto de Carro, um lugar da freguesia, possuía o rei D. Dinis um reguengo doado em 1346 a Pero Pais e a todos os seus sucessores a título de aforamento.
A Igreja Matriz, a Capela de S. Lázaro, situada no lugar de Pardieiro, a Quinta do Troncal, o Largo e a Escola do Pardieiro são exemplos do património cultural e edificado que merecem um especial destaque.
Relativamente à construção da igreja nova, em substituição da antiga, da qual já não resta o menor indício da sua existência, existe uma narração que diz o seguinte: "Narra a tradição que tudo se preparava para edificar o novo templo em lugar mais central, em Serrazina, quando se fez sentir a malévola influência dum lojista do lugar da Igreja e de seus camaradas que gastavam mais vinho que religião. Esse homem, ludibriando o povo e seus representantes, com alguns copos do verde regional, levou os carreteiros da pedra para o novo templo a usarem carros de eixo velho, para que partissem numa balcada junto à antiga igreja. Reza a tradição que isto, de facto, assim aconteceu. E o mau homem inventou a história de que era o santo padroeiro, S. Martinho, que não queria que mudassem a igreja para o lugar de Serrazina." (José Leite).
Verdadeiro ou falso, o facto é que a nova igreja foi construída no mesmo lugar e um pouco a nordeste da antiga.
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