A construção de projectos novos para enfrentar a idade da reforma e o papel social das instituições junto dos idosos foram as ideias-chave da intervenção que o professor Daniel Serrão proferiu esta manhã em Oliveira de Azeméis no âmbito da iniciativa «Azeméis é social».
«A reforma deve ser olhada não como um fim mas como o princípio de um novo projecto, devendo a preparação para essa etapa da vida ser feita aos 60 anos», defendeu o professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (UP).
A população idosa em Portugal está estimada em dois milhões de pessoas, um número que leva Daniel Serrão a afirmar que «a sociedade está envelhecida» e que o país «não está a substituir a população» face à baixa taxa de natalidade e à elevada taxa de esperança de vida que, nas mulheres, ultrapassa os 80 anos de idade.
Segundo Daniel Serrão o alto nível de percentagem de idosos é uma «vitória social» e não deve ser visto como um prejuízo para a sociedade. «Isso significa que a sociedade foi capaz de se aproximar dos níveis de sobrevivência de outros países», explicou.
Agrupando os idosos em três categorias - saudáveis, independentes e inactivos -, Daniel Serrão considerou que o «pior problema é ser inactivo» e sustentou que «o trabalho a realizar socialmente é torná-los activos e convencer as pessoas que devem começar a preparar a sua nova reforma de vida».
«As iniciativas sociais devem incidir nas aspirações dos idosos, ou seja, nos projectos que eles próprios devem definir antes de se reformarem para que a transição para uma nova vida seja serena», defendeu.
Segundo Daniel Serrão «a preparação para a reforma deve acontecer aos 60 anos» e o idoso «deve ser reeducado» para que não se sinta um dano para a sociedade.
No que se refere aos idosos doentes e incapacitados considerou que «o sistema de saúde se deve preocupar com as áreas terapêuticas que aumentem a sua qualidade de vida».
Aos participantes no encontro «Universo de direitos num mundo maior» o professor da Universidade do Porto e docente do Instituto Bioética da Universidade Católica disse ser importante «investir na prevenção» e que «o envelhecimento salutar conquista-se na juventude, entre os 20 e 30 anos com a adopção de estilos de vida saudáveis».
Nesse sentido há que apostar em «boas campanhas de prevenção junto dos jovens com o objectivo de transmitir uma imagem diferente do idoso, a de uma pessoa activa, independente e interventora na sociedade».
Teresa Cadavez, da linha de apoio ao cidadão idoso, ligada à provedoria da Justiça, realçou que «a realidade em que vivem os idosos é, muitas vezes, distante do universo dos direitos» apesar destes estarem consagrados na Constituição da República.
A técnica admitiu mesmo que em muitas situações «não são garantidos os direitos dos cidadãos idosos» e alertou para a «falta de suporte legal sobre o tratamento de familiares a idosos», um apoio que «não lhes dá o direito de se apropriarem dos seus rendimentos».
Teresa Cadavez salientou que em Portugal não existe uma lei geral de protecção às pessoas idosos tal como para as crianças e os jovens.
A Linha de Apoio ao Idoso foi criada em 1999 tendo recebido 2706 chamadas em 2010, das quais 52% efectuadas por idosos. Entre os registos destaca-se 246 chamadas ligadas a serviços de apoio domiciliário, 215 por maus tratos, 152 ligadas a lares de idosos, 234 relacionadas com questões de saúde e 59 ligadas a situações de negligência.
A presentação do projecto «Cuidar de quem cuida», destinado a apoiar os cuidadores de pessoas com a doença de Alzheimer nos municípios do Entre Douro e Vouga, ficou a cargo das técnicas Ana Isabel Ribeiro e Sílvia Tavares.
O projecto é desenvolvido em cinco concelhos e abrange 43 profissionais e 135 cuidadores informais estando em curso a criação de uma bolsa de voluntários.