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Teresa Maria Ferreira Bastos Oliveira: “O pão permitiu-me construir os meus sonhos e torná-los realidade, porque consegui sempre concretizar tudo o que me propunha a fazer”.

Oliveira de Azeméis

Teresa Oliveira tem 54 anos e nasceu em Barquisimeto, na Venezuela, tendo regressado com a família a Portugal com 7 anos de idade. É filha e neta de padeiras e aprendeu o ofício do pão com a mãe, tendo iniciado a atividade por conta própria com 23 anos, já lá vão 31 anos.

Uma vez que o pai era de Ul e a mãe de Adães, frequentou a escola primária em Adães tendo posteriormente mudado para Ul, para a casa que ainda hoje é dos pais, onde a avó paterna, padeira de Ul, tinha a sua padaria. Os avós maternos tinham uma mercearia e eram vendedores nas feiras, o que significa que a veia mercantil lhe corre no sangue por via de ambos os progenitores.

Recorda de ser pequenita e curiosa pelo trabalho no pão, o que a levava, ainda de madrugada, a incursões na padaria da avó, onde gostava de «pintar as regueifas até à hora do pequeno-almoço, altura em que regressava a casa, nunca de bolsos vazios, porque a avó fazia sempre questão de cozer e oferecer uma regueifa a cada neto.

“A minha avó era uma especialista nas regueifas, dizia que as regueifas dela eram como bolo-rei, só lhe faltavam as frutas”, explica Teresa Oliveira com orgulho.

Já o avô paterno, para além do trabalho na lavoura, era carpinteiro, fazia pipas, bancos, as pás para as padeiras, as masseiras, tabuleiros e era um habilidoso para esse ofício que é cada vez mais raro.

A avó só cozia ao sábado e, ao domingo, fazia a venda do pão e das regueifas no parque de La Salette. Depois, quando faleceu, a mãe decidiu dar continuidade às vendas e assim foi passando os ensinamentos à filha.

Teresa Oliveira estudou até ao sexto ano de escolaridade e começou por trabalhar, ainda jovem, como gaspeadeira, ofício para o qual tinha muita aptidão e habilidade e que desempenhava com criatividade e com talento, o que a distinguia das demais colegas de profissão.

No entanto, a avó incentivava-a a ser padeira porque lhe reconhecia uma capacidade e vocação inatas para desenvolver o negócio por conta própria. Teresa Oliveira foi-se apercebendo, ao longo do tempo, que tinha mais possibilidades de prosperar se trabalhasse no pão, até porque sempre foi muito ambiciosa. “A arte já nasce connosco e adaptei-me bem ao pão”, refere Teresa Oliveira.

E se durante alguns anos trabalhou na antiga padaria da avó, juntamente com a mãe, acabou por se aventurar a construir a própria padaria, anexa à casa de habitação que edificou num terreno comprado na vizinha freguesia de Travanca.

Nessa altura, terá sido das padeiras que mais pão de Ul vendeu, ao ponto do marido, que trabalhava numa grande empresa concelhia, ter deixado o seu trabalho para colaborar no negócio familiar, assumindo a distribuição do pão pelos clientes.

Atualmente, para além da colaboração do marido conta, nos dias de maior azáfama, à quinta-feira e ao sábado, com a ajuda da mãe e de um jovem padeiro de 19 anos, que trabalha em Loureiro numa grande panificação e que concilia o seu trabalho com este apoio informal.

Teresa Oliveira relata que há alguns anos, para além de fazer a venda do pão ao domicílio, também se dedicava à doçaria e chegou mesmo a ter três empregadas a trabalhar consigo, tal era o volume de negócio. Era praticamente a única padeira a confecionar doces, um trabalho completamente artesanal, muito trabalhoso e dispendioso em termos de tempo, mas que Teresa Oliveira desenvolvia com um brio imenso e com uma vaidade infinita.

Teresa Oliveira aproveitava o calor dos fornos, depois de cozerem o pão, e colocava todo um cem número de bolos que saíam com um sabor e uma textura de produto caseiro inconfundíveis. Os bolos de gema, as cavacas, os suspiros, os bolos de coco, os caladinhos, as tartes, o pão de ló tipo Ovar, os bolos-rei, os bolos de noz, os fios de ovos, e tantas outras iguarias, faziam um brilharete nas festas da Senhora da Saúde da Serra, em Vale de Cambra, de São Giraldo, em Águeda, nas Festas do Parque em honra de Nossa Senhora dos Milagres, em São João da Madeira, nas Festas de La Salette, em Oliveira de Azeméis, na Feira de Março, em Aveiro, no São Brás, em Ul e em tantas outras.

“Expunha o meu produto como se fosse uma montra, adorava quando me gabavam, quando elogiavam os meus bolos e sentia um orgulho imenso porque via que as pessoas verdadeiramente apreciavam o meu produto e eram atraídas pelo seu aspeto, sabor e aroma”, refere Teresa Oliveira.

A fama da sua doçaria, em épocas festivas, obrigava-a a desdobrar-se entre a padaria e a confeção de doces típicos, essencialmente na Páscoa e no Natal, alturas em que era procurada por tantas famílias que faziam questão de colocar na mesa os mais frescos e caseiros bolos típicos.

Mais recentemente, deixou de poder contar com esta ajuda extra e por isso cortou muito do trabalho, restringindo o produto ao pão e às regueifas e limitando as vendas a supermercados, restaurantes e lojas, que se distribuem por várias localidades, como Fajões, Cesar, Carregosa, Válega, Avanca, Ovar e S. João da Madeira.

Os dias de trabalho são penosos, com horários exigentes que só permitem uma folga ao domingo. O dia a dia obriga-a a levantar-se entre a meia noite e a uma hora da madrugada, depois de quatro ou cinco horas de sono, apenas. De sexta para sábado, a noite mais exigente de trabalho, o corrupio na padaria inicia às 21 horas e dura até ao início da tarde do dia seguinte, essencialmente, pela quantidade de regueifas que tem que colocar ao forno.

Como vende muito para lojas que exigem um rigoroso controlo de qualidade, ao longo do tempo, Teresa Oliveira adaptou a sua padaria de acordo com as mais precisas regras de higiene e segurança alimentar, tendo adquirido mobiliário e instrumentos em inox, de fácil limpeza e máquinas adaptadas que permitem embalar o pão com microfilme e etiquetar as embalagens, o que revela a enorme capacidade de se adaptar às regras de mercado e aos requisitos legais.

Teresa Oliveira tem consciência de que é exigente e rigorosa no seu trabalho, o que transparece nas elevadas capacidades para organizar o trabalho e orientar a sua padaria. Ao longo dos anos foi passando o seu saber às pessoas que com ela foram trabalhando, mas atualmente não vê muitas pessoas a apostarem nesta profissão.

Reconhece que é uma das mais novas padeiras em atividade e sente-se triste por perceber que esta profissão não desperta o interesse das novas gerações, uma vez que impõe muitas limitações à vida pessoal, um rigoroso controlo de horários e a austeridade das condições de trabalho por causa da elevada temperatura dos fornos a lenha.

Para a maior parte das padeiras de Ul, o trabalho começa quando a maioria das pessoas ainda está a dormir, a altas horas da madrugada, para preparação prévia da massa, antes do pão poder ir para o forno. 

“Os métodos de trabalho muito metódicos e organizados são fundamentais para conseguir manter tudo em ordem, produzindo as quantidades necessárias nas horas certas, para o pão não faltar no cliente”, explica Teresa Oliveira. Esta organização deve ser contínua, desde o arranque dos trabalhos até à sua finalização, com a limpeza e arrumação de todos os equipamentos utilizados.

Ora este ritmo alucinante e esgotante demove muitos jovens deste trabalho, uma vez que as modernas padarias utilizam técnicas de conservação das massas e de cozedura em fornos elétricos que nada se assemelham às difíceis condições das padarias artesanais.

Teresa Oliveira refere com alegria que fez um percurso bonito, à custa de muito trabalho, de muito sacrifício, de cansaços mil, abdicando de tantos momentos de lazer e convívio, porque gosta imenso da sua profissão, gosta de ver o seu produto no cliente.

“O pão permitiu-me construir os meus sonhos e torná-los realidade, porque consegui sempre concretizar tudo o que me propunha a fazer, com perseverança, com dedicação e vontade de fazer sempre mais e melhor”, desabafa Teresa Oliveira.

Para Teresa Oliveira é fundamental fazer passar a mensagem real e significativa de que este é um negócio que permite concretizar os mais valiosos sonhos, para que o pão de Ul continue a ter futuro e a alicerçar a esperança de sucesso de muitos jovens.

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