A presente estátua, de 225 cm de altura, é um bronze de autoria do prestigiado escultor Eduardo Tavares, professor da Escola de Belas-Artes do Porto.
A propósito da comemoração do cinquentenário da primeira obra literária de Ferreira de Castro, «Criminoso por Ambição», publicada em 1916, realizaram-se várias ações comemorativas, tanto em Portugal como no Brasil.
Em Portugal, esses eventos ocorreram, segundo o Arquivo do Distrito de Aveiro[1], em Alhandra, Cova da Piedade, Covilhã, Lisboa, Ofir, Porto e Santarém. E, naturalmente, em Oliveira de Azeméis. Nesta localidade, as comemorações, lideradas por uma comissão que foi constituída para o efeito (e de que fazia parte o próprio presidente da Câmara Municipal, Dr. Artur Correia Barbosa), tiveram o seu termo a 30 de dezembro de 1966, pelas 17h00, com a inauguração da presente estátua.
Considerada pelo então presidente da Câmara uma «justíssima homenagem», a obra, custeada pela Câmara Municipal e por subscrição pública[2], foi colocada no lugar mais digno da localidade: ao lado do Largo da República, onde se situa atualmente a Câmara Municipal (à época, Praceta D. Maria I).
Presentes na cerimónia estiveram o escritor Ferreira de Castro, a esposa, Elena Muriel, e a filha, Elsa Ferreira de Castro. Também presentes estiveram vultos de grande craveira como os escritores João da Silva Correia, Assis Esperança, Mário Sacramento e Mário Braga e os jornalistas Eduardo Cerqueira e Álvaro Salema. O escultor Eduardo Tavares esteve ausente na inauguração, uma vez que se encontrava no estrangeiro em viagem de estudo.
Numa cerimónia com alguma sumptuosidade, foi a própria filha que descerrou a estátua, ao que se seguiu a sessão solene, cujos principais intervenientes foram o Presidente da Câmara, Dr. Artur Correia Barbosa, o Prof. José Pereira Tavares e o próprio escritor Ferreira de Castro.
A estátua é vulgarmente conhecida como «Emigrante». A esta obra de arte, no entanto, não lhe foi atribuído esse nome. No pedestal, apenas inscreveu o autor «A Ferreira de Castro». O nome «Emigrante» advém com naturalidade da representação que a obra de arte assume: um homem despido, de mãos vazias, numa postura de reflexão e de desalento. Alguns veem nela a representação da personagem Manuel da Bouça, protagonista do grande romance «Emigrantes», que emigrou para o Brasil já com 40 anos a tentar a sua sorte, mas que regressou a Portugal sem absolutamente nada, a mulher falecida na sua ausência e desapossado das courelas que hipotecara para arranjar dinheiro para a viagem.
Segundo o Dr. Artur Barbosa, a estátua «simboliza mais a obra e o espírito de Ferreira de Castro do que particularmente o emigrante.»[3].
Nas palavras do próprio Ferreira de Castro, que sempre negou a representação de si próprio em praça pública, «A figura que se ergue […] representa não a mim, mas o povo português através de várias personagens dos meus livros; o povo olhando uma das mãos vazia de bens materiais, enquanto afasta com a outra o suor que duras penas lhe fazem brotar do rosto.» Enfim, conclui FC, representa, «A vida dos deserdados […], símbolo dos homens que aspiram a um mundo mais justo […][4].
Nesse mesmo ano de 1966, foi feita uma edição de luxo do romance «Emigrantes», com ilustrações do insigne pintor Júlio Pomar e posfácio especial do autor.