Apesar de já estar envolvido em combates com tropas alemãs nas colónias africanas desde 1914, numa guerra não declarada e obrigando ao envio de várias forças expedicionárias para Angola e Moçambique, o esforço principal do Exército Português na Primeira Grande Guerra foi, sem dúvida, na Frente Ocidental.
Desde as Guerras Napoleónicas que Portugal não tinha uma tão grande mobilização de tropas para território europeu, no que viriam a ser quase 58000 homens, não contando os mais de 50000 mobilizados em vagas sucessivas para África.
A declaração formal de guerra entre Portugal e a Alemanha em 9 de Março de 1916 levou o Governo da República, já tolhido pela instabilidade política, e o Exército Português, que havia iniciado um processo de modernização estrutural (incluindo o serviço militar obrigatório) lento e hesitante desde 1911, a preparar um corpo expedicionário de grandes dimensões para as capacidades do país, com duas divisões de infantaria, corpos de artilharia, cavalaria, engenharia e outros serviços de logística, apoio e saúde para uma intervenção na França, especificamente no designado Sector da Flandres.
Todos os níveis de reservistas foram chamados ao serviço e deu-se início à mobilização sistemática de cidadãos para as fileiras, sendo as tropas acantonadas no campo militar de Tancos, para o treino e a preparação para combate, o que daria origem ao quase mitológico Milagre de Tancos, que acabaria por não dar os resultados esperados nas trincheiras da Frente Ocidental. As forças que foram criadas organicamente para partir para França foram o Corpo Expedicionário Português (C.E.P.), o Corpo de Artilharia Pesada (C.A.P), estes sob a jurisdição dos comandos britânicos e o Corpo de Artilharia Pesada Independente (C.A.P.I.) sob comando francês, cujas áreas operacionais seriam situadas na frente da Flandres francesa, especificamente de St. Venant a Fauquissart, numa frente que variou entre 11 a 18 km, demasiado extensa para ser guarnecida apenas por duas divisões.
Quando as tropas portuguesas, entre eles cerca de 265 homens de Oliveira de Azeméis, chegaram às suas posições, em substituição de vários batalhões britânicos, encontraram já uma rede de trincheiras e fortificações, prontas a ser usadas pelas novas guarnições, mas situadas numa zona de extrema humidade, ainda hoje evidente nos terrenos de cultivo que substituíram a zona de guerra. Para agravar a situação as posições portuguesas ficavam numa cota ligeiramente inferior à das ocupadas pelas posições alemãs, tornando-as mais expostas. A integração dos soldados portugueses na frente da Flandres foi uma tarefa árdua e difícil, pois estes homens, vindos de um país de climas suaves, foram enfrentar Invernos longos e rigorosos, com muita chuva e temperaturas muito baixas.
Nevoeiros e chuvas quase diárias transformavam os solos e pavimentos das trincheiras em autênticos lodaçais pantanosos. As trincheiras rapidamente se tornaram, aos olhos das tropas do C.E.P., em locais horríveis para se viver e morrer, sobretudo para o grosso das tropas de Infantaria que compunham os batalhões, vindos de todo o país, na sua maioria analfabetos e desconhecedores das razões que os obrigaram a ali ir e ficar. A este cenário juntava-se o inferno sofrido pelos cerca de 50000 soldados portugueses mobilizados para Angola e Moçambique entre 1914 e 1918, dentre os quais 190 efetivos de Oliveira de Azeméis.