O Cineteatro Caracas promove, no dia 20 de outubro, pelas 18h00, o espetáculo de dança - Parte de Coisa Nenhuma.
Sinopse:
"Nasce-se num lugar, num determinado tempo, numa família, numa língua, num clima, numa cultura, num cheiro e sabor de comidas,... nasce-se a ser parte de algo, como que uma peça de um puzzle que só se completa porque no início, quando só se chora e se respira, cria-se a ilusão de que todos se encaixam.
É também possível nascer-se para não se vir a sentir parte de coisa alguma. Chega-se virgens a um mundo que fecunda prazeres e desprazeres, e no fim o que se sente é o que se é. Caminha-se sozinho no meio de toda a gente correndo o risco de se viver alienado, na eventualidade da identidade singular se perder na do coletivo. Pertencer a um grupo é também deixar a pluralidade transcender o pensamento de uma só mente, acreditar na força que vários corpos e mentes juntos excedem o gênio, o sábio e o competente. Mas que dilema esse entre pertencer e ser. Pertencer não é só uma escolha de cada um, a sociedade apodera-se dessa decisão com uma triste inconsciência, descartando-se das consequências Existe porém a possibilidade de cada um escolher conscientemente.
O Fado carrega esta herança cultural, acolhendo todos os que nasceram em terras lusas sem lhes perguntar se cá querem pertencer. O grupo tem esse dom, de acolher mesmo os que se questionam sobre a sua pertença, e também consegue ser cruel, ao excluir quem a ele deseja pertencer. Mas o grupo, os grupos, formam-se e desfazem-se, flutuam entre o que são e o que almejam ser. E há quem pertença a grupos que se desvaneceram e quem pertença a grupos que ainda não se formaram. Essa flutuação ganha vida no movimento, no espaço que ocupamos e no tempo que levamos e esperamos, e então a dança fala desse dilema sem as regras da semântica, apenas com a autenticidade de quem sente.
O processo criativo baseou-se grandemente na exploração de movimento alternada entre a expressividade de um individuo singular e a expressividade de um grupo e como ambos se afetam mutuamente. E quando esse sentimento de pertença não existe? E quando se pertence a um grupo sem que ele nos pertença a nós? A quem pertencia o Fado quando ainda não era de toda a gente?
O fado encontra-se, numa primeira fase, vincadamente associado a contextos sociais pautados pela marginalidade e transgressão, em ambientes frequentados por prostitutas, faias, marujos, boleeiros e marialvas. Muitas vezes surpreendidos na prisão, os seus atores, os cantadores, são descritos na figura do faia, tipo fadista, rufião de voz áspera e roufenha, ostentando tatuagens, hábil no manejo da navalha de ponta e mola, recorrendo à gíria e ao calão. Esta associação do fado às esferas mais marginais da sociedade ditar-lhe-ia uma vincada rejeição pela parte da intelectualidade portuguesa. (in web, 2017: http://www.museudofado.pt/gca/index.php?id=17)
Afinal o fado nasceu daquele que não se sentia parte de coisa nenhuma. Curioso ser o marginal quem vem fazer que com que todos se sintam em casa.
O imperfeito enaltece o perfeito, o perfeito cria o imperfeito e alimenta-se dele. Que parte representa afinal o primoroso, distinto e completo na vida do inacabado e do imperfeito? Quem é o imperfeito? Onde pertence cada um? Como se forma um grupo? Quem pertence a quê? Quem se sente mais parte de algo ou parte de coisa nenhuma? Por onde anda quem se sente pertencido e por onde viaja quem se sente desamparado? Virá o Fado encontrar o perdido ou achado? O famoso ou o esquecido? Quem é o marginal? Seremos provavelmente parte de coisa nenhuma".
Entrada: Gratuíta mediante levantamento de bilhete.
No dia 19 de outubro não perca a exibição do documentário "Parte de Coisa Nenhuma" (entrada gratuita mediante levantamento de bilhete) e o Workshop de Dança Inclusive (gratuito mediante inscrição).